Casamentos
Ubatã
Casamento de Darlene e Mateus
Darlene ainda estava com os cabelos presos nos grampos, as mãos inquietas no colo, aquela respiração de quem tenta convencer o próprio peito a ficar no ritmo certo. A porta abriu e entrou um buquê de rosas primeiro, depois a caixinha com a caligrafia dele. A maquiadora fez silêncio sem que ninguém pedisse. Ela percebeu que não poderia pedir para Darlene segurar as lágrimas dessa vez.
Darlene sorriu do jeito que só ela sabe, aquele sorriso que atravessa qualquer lente.
A carta era a última antes do “pra sempre”. A última das mais de 27 cartas que ele escreveu pra ela.
“Hoje eu te encontro no altar”, esse é o resumo do que Mateus escreveu, caneta firme, mesmo com a timidez gritando por dentro. Era tão ele. Tão fiel ao menino que começou a amar Darlene quando os dois ainda estavam descobrindo o mundo, as escolas, as primeiras músicas, as primeiras cartas.
Quando a cerimônia começou, ele tentou manter o ar sério. Tentou.
A verdade é que nem durou dois passos.
As lágrimas vieram sem pedir licença e molharam o canto do rosto. Na hora dos votos, mais lágrimas enquanto ele tirava do bolso algumas páginas amassadas. Várias. Quem diria que o tímido seria o que mais se abriria ali.
A voz trêmula, o amor inteiro, a coragem finalmente ficando maior que a vergonha.
Ela segurou as mãos dele como quem segura algo raro. E era.
E eu ali, vendo tudo, enquadrando tudo, tentando não tremer junto.
Nessa hora lembrei como fui parar ali, naquele casamento em Ubatã.
Darlene e Mateus nos encontraram pela internet e disseram que buscavam exatamente esse jeito de retratar o amor que a gente insiste em perseguir. No dia do casamento, antes da festa começar, ele me chamou e me entregou uma caixa.
Dentro dela, uma mensagem que parecia carta também. Só que escrita pra mim.
Eu respirei fundo.
Senti aquele peso bom no peito, aquele lembrete que chega na hora certa: é por isso que eu faço o que faço.
É por isso que conto histórias.
É por isso que esse caminho segue valendo a pena.
E então cheguei a uma linda conclusão:
O amor deles me ensinou que algumas histórias escolhem a gente antes da gente escolher a câmera.